Após a confirmação da morte de um menino de 9 anos por Gripe A no dia 5 de julho, no Hospital de Clínicas, em Porto Alegre, a terceira vítima fatal da doença no Brasil e a segunda no Estado, Sapucaia do Sul virou o foco das atenções da imprensa de todo o país na segunda, 13.
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Em entrevista à Folha, os pais da vítima falam sobre a revolta que sentem com a forma como o caso foi tratado pela Secretaria Estadual de Saúde, contam detalhes do período em que o garoto ficou internado e ainda afirmam que possuem suspeitas de que a doença possa ter sido contraída fora de Sapucaia do Sul.
Folha do Povo – Como o senhor recebeu a notícia de que o seu filho foi a segunda vítima da Gripe A no Estado?
Pai – Cara, isso foi a pior coisa que aconteceu. Me ligaram da Secretaria de Saúde do Estado na hora em que fizeram o anúncio oficial. Eu estava no trabalho e comecei a receber ligações avisando o que estava acontecendo. Expuseram o meu filho mais velho baseados em suposições. Disseram na televisão e no rádio que ele pegou do irmão. A primeira suspeita é que alguém do colégio do meu filho mais velho (Liberato Salzano Vieira da Cunha, em Novo Hmaburgo) tivesse a doença. Mas isso foi descartado.
Folha – Mas existe possibilidade que o menino tenha sido infectado no Hospital?
Pai – Tudo me leva a crer que sim. Se não foi na escola, pode ter sido lá. Não quero achar culpados. Meu filho chegou no Hospital de Clínicas, onde já fazia acompanhamento neurológico, no dia 2 de julho, com pneumonia. Ele já tinha se consultado com um médico aqui em Sapucaia. Ele já havia tido pneumonia há seis anos. Ele tinha a imunidade baixa. Quando chegou no hospital não apresentava nenhum sintoma de gripe. Não tinha coriza, nem dor de cabeça.
Mãe – Ele não ficou em isolamento na quinta. Ficou numa sala onde estavam outras crianças e se comentava que havia pessoas com a Gripe A no hospital. Ele foi encaminhado para a UTI depois. Na sexta pela manhã, foi para o isolamento. Os médicos comentaram na sexta à noite que os remédios não estavam fazendo efeito. Disseram que poderia ser a gripe, mas o resultado demoraria muito para sair, portanto já aplicariam o tratamento. Pediam para que não comentássemos para não chamar a atenção. No dia da morte, nos ligaram e perguntaram se alguém da família estava gripado.
Pai - O Hospital de Clínicas foi perfeito no que se trata do tratamento. Lutaram pela vida do meu filho até o último momento.
Folha – A Secretaria Estadual da Saúde prestou assistência à família?
Pai - Disseram que deram assistência. Isso é mentira. Só mandaram que nós usássemos máscara durante o período que ele ficou no Hospital. Eu estou culpando a Secretaria Estadual pela forma como expuseram o caso. Quero esclarecer que não é do jeito que a Secretaria está botando. Eles querem botar que alguém esteja com os sintomas e passou para outra pessoa. O vírus pode estar no ar. Não sou eu que estou afirmando, isso quem disse foi a Organização Mundial de Saúde (OMS). Já procurei um advogado para analisar o que podemos fazer sobre a forma que nos expuseram na imprensa. O advogado é quem vai me dar o caminho. Não quero pegar dinheiro nenhum. O ideal seria que eles tivessem nos informado com antecedência e depois informado, simplesmente, que morreu alguém pela doença e entraria para a estatística. Não foi coletado nada de nenhum parente. Se isso serve para prevenir, por que não fizeram?
Folha – Alguém mais da família apresentou algum sintoma?
Pai – Não. Estamos todos bem. As três pessoas que estiveram com ele no hospital usaram máscaras e não apresentaram nenhum sintoma.
Mãe – Dizem que quem tem diabetes, por exemplo, tem mais chance de pegar a doença. Eu tenho e não aconteceu nada. Ele já não ia à APAE desde o dia 24 de junho. Não tem como ele ter passado para outro aluno. Ele só começou a dar sinais da pneumonia na segunda, 29.
Folha – Como vocês estão vendo o clima de pânico que começa a se formar nas ruas de Sapucaia?
Pai – É uma gripe comum e nós não temos nenhum sintoma. Meu filho não pegou a doença em Sapucaia. Já passou o período de contágio. Não precisa ter pânico. Não posso culpar uma pessoa que nos discrimine porque ela é desinformada. Mas é inadmissível que algum professor de escola não esteja por dentro da doença e mande para casa qualquer aluno que tossir.
Folha – A família já sofreu algum tipo de preconceito?
Mãe – Os vizinhos estão indignados pela forma como o caso foi tratado. Só recebemos apoio.
Folha – Como está o seu filho mais velho?
Pai - Continua sua rotina normal. No colégio dele todos o tratam bem. Ele tem a cabeça boa. Os dois irmãos eram muito apegados, viviam juntos. Eu conversei com ele no dia em que saiu a notícia e expliquei a situação. Segue a rotina normal dele. Mais detalhes nesta edição da Folha do Povo que estará nas bancas a partir de 17 de julho.